Jenipapo – Elissadrina Félix

A Amazônia tem despertado a atenção de outros povos, pela sua grande riqueza e importância ao planeta, e principalmente às comunidades ribeirinhas e várias etnias que habitam esta região, tem contribuído para o equilíbrio do planeta, na regulagem do clima e preservação da flora e fauna.  O jenipapo (Genipa americana L.) distribui-se por toda a América tropical, seja cultivado ou nativo, por toda a região norte do Brasil. Encontrado frequentemente em lugares de antigas habitações indígenas, e comum nas várzeas dos rios de água clara Cavalcante (1974). O jenipapeiro pertence à família das Rubiáceas, é uma espécie de importância econômica, quer como essência florestal, quer como produtora de alimentos (Sá, Souza, Silva Y Lédo, 2015). Árvore elegante, de caule reto, atingindo até 14 m de altura e 60 cm de diâmetro, apresenta uma copa grande e arredondada, cujos ramos são numerosos e fortes, os inferiores horizontais, às vezes pêndulos, sempre glabros, de casca lisa, espessa, de cor cinzento-esverdeada, com manchas de cor cinza mais claras Corrêa (1969). O fruto do jenipapeiro é uma baga subglobosa, de 8 a 10 cm de comprimento e 6 a 7 cm de diâmetro. 

A importância do jenipapeiro, como uma planta que produz frutos comestíveis, remédios, repelente natural e demais benefícios ao sangue e ao corpo humano. O jenipapo para o povo ticuna tem uma riqueza tanto na pintura, nos alimentos e seus benefícios na saúde como a cura da anemia, e além disso é um cosmético natural como para pintura dos cabelos das mulheres indígenas. Essa fruta narra uma “história de origem que através da fruta do jenipapo o povo Tikuna foram pescados no igarapé Eware o qual é contado de geração a geração”. Através da pintura facial dos clãs o povo ticuna podem se identificar de qual nação ou clã pertencem, considerado a nação de penas e nação sem penas, os clãs são dividido em animais, aves e plantas.   Os clãs de penas Arara, Gaivota, Galinha, Mutum, Japó, Gavião-real, Urubu-rei, Maguari, e nação sem pena como Boi, Buriti, onça, jenipapo, saúva.

 Desta forma constituiu-se o padrão da pintura facial e além disso entra o grafismo que é a pintura corporal.   No ritual da moça nova usamos o grafismo e a pintura facial para identificar a nação pertencente à família e os parentes da moça. O homem por sua vez é pintado no pescoço com o jenipapo, quando entra na face da puberdade para que a sua voz não venha engrossar e para que a sua traqueia não cresça para frente, mais sim normal. Na saúde o jenipapo é usado para a proteção de doenças em crianças recém-nascido, pintando o seu corpo inteiro, simbolizando a proteção de doenças como mal olhado, doenças de ar e afastar mal espíritos.  A época do fruto do jenipapeiro se dá no mês de março, abril, maio e junho, e na metade da época do ano no mês de agosto, setembro e novembro entre tanto em outras época do ano variando a estação podendo ser na enchente ou no verão, pode ser encontrado na terra firme ou na várzea.  O processo de extração do liquido é feito quando o fruto está verde, para retirar é necessário usar um ralador e um utensílio para colocar o líquido e guarda o sumo de jenipapo. E com tudo isso sem o fruto do jenipapo não teria à história do povo ticuna. 

Referência 

CAVALCANTE, P.B. (1974). Frutas comestíveis da Amazônia II. Belém, Museu Emilio Goeldi.  

CORREA, M.P. (1969). Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro, lEDE.  ISBN 978-85-7738-309-2

SÁ, F. P, SOUZA, F. V. D, SILVA, A. V. C y LÉDO, A, S. Encapsulamento, crioproteção e desidratação na capacidade regenerativa de ápice caulinares de Genipa Americana. Ciência Rural. 45(11), pp. 1939-1945. Doi.org/10.1590/0103-8478cr20140579

FESTA DA MOÇA NOVA – Por Salomão Clemente

A festa da Moça-Nova, ritual de passagem da jovem Tikuna quando chega na primeira menstruação, já se inicia desde o nascimento de uma criança de sexo feminino, até chegar no dia em que a menina se torna moça. Aí então os pais e parentes preparam a sua festa, que é camada “festa da Moça-Nova” ou também “festa de pelação” em nossa língua é (WORECÜTCHIGA). Esta é uma cerimônia muito sagrado que os Tikunas fazem. A festa já veio desde princípio do mundo, depois que Deus Yo’i e Ipi pescou o seu povo no lugar chamado “Eware”. 

Quem são os Tikuna no ponto de vista atual? A resposta depende de cada localidade onde estão os Tikunas, seja se ficam aldeados mais próximo a cidade ou se vivem nos igarapés e nas ilhas do rio Solimões ou nas cabeceiras dos igarapés. Alguns vão responder que os Tikuna são os que usam roupa, que frequentam as igrejas, que estudam nas universidades e cidade, que falam o português (alguns nem falam mais a sua língua). Ao contrário, outros vão responder que os Tikunas são os que pintam seu corpo com jenipapo, caçam, vivem de coleta de frutas e praticam danças tradicionais quando fazem a festa da moça nova. Muitos brancos vão dizer que os Tikunas não são mais indígenas porque usam roupas, se misturam com os brancos e são urbanizados. Esses diferentes respostas fazem parte da realidade do povo Tikuna e tem muito a ver com o preconceitos que o povo sofre nos dias atuais. A festa da moça nova, da qual todos podem participar, nos traz uma series de conceitos e significados que podem reunir todas aquelas diferentes respostas.

A festa da moça nova é um ritual que, para os Tikunas, tem profundas significações até os dias atuais. Nela está todo o conhecimentos do povo, onde somente os Tikunas tem a pratica e o uso dessa ciência. O ritual é uma teia de significações tecida pelos antigos ancestrais Tikuna e pelos seus seres protetores imortais (Yói, Ipi e muitos outros). Em cada comunidade Tikuna os anciões orientam todos os jovens porque essa pratica ritual tem que ser mantida. Todos os jovens são convocados em certa ocasião e é ai que este conhecimento é transmitido a eles, momento em que o ancião conta toda a história do surgimento do povo e da festa da moça nova. Essa transmissão dura horas e até dias, semanas e mês, fazendo parte dos preparativos da festa e criando um círculo de comunicação espiritual. 

De forma feral para todos os Ticuna que estão vivos a festa da moça nova significa, proteção, direito de cidadão, direito a educação, direito a demarcação de terra, direito a saúde e principalmente a respeito tanto como pessoas cidadãos brasileiros. O ritual da moça nova é a identidade do povo Tikuna. As roupas que os tikuna usam não significa que eles deixaram de ser Tikuna por causa do vestimenta de roupa, a roupa que os Tikuna usam é para se comunicar com o mundo dos branco fora disso o direito de ser Tikuna sempre tem porque ele fala sua língua, realiza as atividades tradicionais como, pescar e caçar, fazer roça e fazer contato com mundo espiritual. O Tikuna nunca deixou de ser quem ele é por causa da roupa. 

Esse é a importância da festa da moça nova para o povo Tikuna, valorizar a sua cultura tradicional para nunca deixar de existir e para sempre existir e resistir para proteger a mãe natureza. 

História do Museu Magüta – Santo Inácio Clemente

O Museu Magüta é o primeiro museu indígena criado no Brasil. A sua história se inicia em 1985, quando uma equipe de pesquisadores do Museu Nacional sob a coordenação do professor João Pacheco de Oliveira, juntamente com as principais lideranças do CGTT, criaram o Centro de Documentação e Pesquisa do Alto Solimões.

No princípio, o prédio do Museu foi construído com o objetivo de mobilização das lideranças, para reuniões das lideranças, para elaboração de documentos, para buscar uma alternativa dos seus interesses. O ponto de mobilização mais forte era sobre a demarcação da Terra, e na época tiveram como apoio o antropólogo João Pacheco de Oliveira, que era do Museu Nacional e estava fazendo a  sua pesquisa junto com os Tikunas. E como ele fazia pesquisa sobre a cultura dos Ticuna, João Pacheco fez um projeto para construção de um prédio junto com as lideranças, assim foi construído o prédio, no começo era chamado “Centro Magüta, ou Centro de Documentação e Pesquisa do alto Solimões.

Já feito o prédio, as lideranças faziam suas reuniões, de quinze em quinze dias, ou mensalmente, articulavam-se sobre projetos, nesse momento o movimento das lideranças foi crescendo e houve conquistas. Foi um momento também onde muitos políticos da região não aceitavam esse progresso, e não gostavam do prédio na Cidade, pois os mesmos pensavam que os Ticunas queriam tomar o Município, mas não era esse o objetivo.

As lideranças se mobilizavam, com seus apoiadores elaboravam documentos para as instituições do governo, para a FUNAI, para o governo do Estado, para Presidente da República, no entanto tiveram muito êxito, nesse momento tiveram conquistas, como: demarcação das terras, conquista da saúde, conquista da educação. Esse foi os primeiros momentos após a construção do prédio Centro Magüta. As lideranças tiveram também apoio de outros pesquisadores de diferentes lugares, nacionais e estrangeiros. Foi importante o apoio do CIMI-Conselho Indigenista Missionário, que ajudava na mobilização das lideranças indígenas Ticuna do Alto Solimões.

Depois das mobilizações e conquistas, houve um intervalo, e foi um período onde muitos materiais culturais foram vistos, como os artesanatos, os artefatos, que eram importantes no uso da cultura Ticuna, onde surgiu uma ideia, e foi pensado em transformar o local em um Museu. Desta forma em 1991 o prédio se tornou um Museu, e junto as lideranças com os apoiadores chamaram o prédio de Museu Magüta, que significa o Povo Pescado, então o Museu Magüta é o Museu do Povo Pescado, a memória do povo Ticuna, o povo mais numeroso do Brasil. Assim foi criado o Museu Magüta, uma ação das lideranças e mostra para a sociedade envolvente a sua cultura viva, sua tradição, sua sabedoria, para que seja reconhecido e respeitado.

O museu tem como finalidades coletar informações e dados culturais do povo ticuna, manter um banco de registro da cultura material (utensílios, arte, artesanato, documentos orais e escrito), criar oficinas de resgate e aprendizagem da cultura material tradicional, contribuir para o fortalecimento do associativismo e cooperativismo das entidades sociais e culturais do povo ticuna, e impulsionar a geração de trabalho e renda através do fortalecimento da cadeia da produção cultural, entre outras.

O museu funciona como centro de referência para o Povo Ticuna. Participou de forma direta e ativa de todos os acontecimentos importantes na história recente dos ticunas: na implantação de um atuante movimento de professores indigenas, na criação de uma escola indígena diferenciada, na formação de monitores de saúde, na demarcação topográfica das terras indígenas e em programas de desenvolvimento sustentável, assim como no treinamento de indigenas no registro em vídeo e em informática.

Recentemente, devido a importância que reveste o Museu Magüta, foi reconhecido como de utilidade pública, pela prefeitura municipal de Benjamin Constant, pelo seu valor histórico, artístico, etnográfico, antropológico, cultural, material, científico e pedagógico.

Onde estamos

Dias e horários de funcionamento:
Segunda à sexta, das 9h às 17h; sábados das 9h às 12h.
Telefone: (97) 98421-0059
Endereço: Av. Castelo Branco, 396 - Centro,
Benjamin Constant - AM, 69630-000

Situado a 1.200 km de Manaus, o Museu Magüta está localizado na cidade de Benjamin Constant (AM), ponto de acesso às 15 terras indígenas, todas demarcadas e regularizadas, habitadas pelos Ticuna.

O museu funciona como centro de referência para seu povo, cuja população está em torno dos 47 mil indígenas, sendo a maior população indígena do Brasil, distribuída nos nove municípios da microrregião do Alto Solimões, além do médio Solimões e na cidade de Manaus. Sua população também está presente em comunidades na Colômbia e no Peru.

Como
chegar

Por Manaus – Vôos regulares para Manaus fornecidos pelas principais companhias áreas. De lá pegue uma barco no porto de Manaus com destino para Benjamin Constant (MA) de lá teremos o prazer de conduzir até nosso museu

Por Tabatinga – Vôos especiais saindo do Rio de Janeiro. De lá pegue uma barco no porto de Tabatinga com destino para Benjamin Constant (MA) de lá teremos o prazer de conduzir até nosso museu.